quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Apontamentos

Gostaria de começar dizendo que os comentários escritos até esta data foram muito bons. Ótimos para um começo de debate, para uma troca de idéias, que é o que eu espero com este blog.

Um ponto que eu gostaria de ressaltar é a relação entre a universalidade e o Direito. Esta relação se dá de várias formas, mas a que me aparece de forma mais latente é nos Direitos Humanos. Estes Direitos tem a pretensão de universalidade com base na proteção da Dignidade Humana.
Mas o que é a Dignidade Humana? Existe algum conceito para a Dignidade Humana? Qual é este conceito? E ele é universal (vale para todos independentemente de credo, raça, etc.)?
Bom, se tu negas a universalidade, acabas por negar a Dignidade Humana de forma universal e, portanto, negas a possibilidade de existência de algum Direito internacional - como os Direitos Humanos.
Mais, se negas a universalidade, estas na verdade dizendo: "Não existe nada que seja universal". Só que esta frase é universal e, logo, deve-se acrescentar um "exceto esta" depois da afirmação: "Não existe nada que seja universal, exceto esta frase". E, se te manténs nesta posição, acabas por entrar em autocontradição, isto é, acabas por refutar a ti mesmo. Isto é, a pessoa diz e se desdiz, que é o que acontece quando alguém afirma que não existe universalidade ou quando afirma que não existem verdades. Aristóteles diria que quem se mantém na contradição não consegue pensar e nem falar e, assim sendo, deveria ser reduzido ao estado de planta.

E aí? Serás um ser humano ou uma planta?

8 comentários:

Ryan Mainardi disse...

Cara, vou tentar elaborar um raciocínio. Tudo isto são conceitos, e conceitos são uma apreensão do pensamento. Mas toda tentativa de apreensão do pensamento é imperfeita. Então podemos concluir que todos os conceitos essencialmente são falhos. E no que consiste essas falhas? Bom, essas falhas são o que não permite que os conceitos sejam universais, ou seja, essas falhas são o que permite a interpretação dos conceitos. Intrepretação pressupõe ponto de vista. Agora imaginemos que um conceito represente uma verdade. A verdade em si estará no pensamento que o conceito tentou apreender. Mas como o conceito é imperfeito, nos restaram as falhas. E cada um interpreta essas falhas à sua maneira, ou seja, cada um complementa o conceito com o seu ponto de vista. Isso significa que cada um elabora a sua própria verdade. E o que acontece se existem muitas verdades sobre a mesma coisa? Elas acabam por anular-se. Conclusão: Não existem verdades absolutas. Nosso mundo é baseado em conceito imperfeitos e tudo é uma questão de ponto de vista.

Que coisa doida isso.

Anônimo disse...

"Mas toda tentativa de apreensão do pensamento é imperfeita. Então podemos concluir que todos os conceitos essencialmente são falhos."

Não, está errado. É um dos modelos de autocontradição expostos pelo Ariel. Basicamente, se todos os conceitos são falhos, esse que elaboraste também seria; portanto, não necessariamente todos os conceitos seriam falhos.

Em outros termos, esqueça o raciocínio.

Anônimo disse...

ah claro, pq apenas seres intelectuais como voces dois entenderiam tal argumento.

Anônimo disse...

"A verdade em si estará no pensamento que o conceito tentou apreender."

Também está errado. Na verdade, não vou entrar no "errado" ou "certo", mas, sim, na parcialidade dessa afirmação.

A verdade, para concordarmos, está tanto na abstração quanto no fato, isto é, na subjetividade e na objetividade. Não há verdade superior ao fato, a não ser que que tu anules o mundo para dar vigor a tua teoria - o que, creio, seja inverossímil.

Ryan Mainardi disse...

Primeiramente: os conceitos são falhos. Todos são. Este também, não havia como ser diferente, mas a idéia que ele representa é a "verdade" que eu quero passar, e esta tu entendeste perfeitamente.

Quanto à subjetividade & objetividade, digo o seguinte: primeiro, não há "verdades", há pontos de vista. Segundo, um fato é uma coisa dura, fria, crua, que independe de abstrações, sentimentos, pensamentos, "verdades". Um fato pode ser essencial a um conceito, ou pode não significar absolutamente nada. Os fatos só nos valem de alguma coisa dentro de contextos. Em suma, um fato é só um fato. Os conceitos é que são as nossas tentaivas de "verdades".

Anônimo disse...

Ryan, basicamente, tu estás dizendo que tudo é falho. Então por que discutir comigo se eu sou falho? Uma discussão entre falhos não faz sentido.

Eu discuto porque quero, justamente, saber verdades.

Ryan Mainardi disse...

Eu não discuto para chegar a "verdades". Eu discuto para conhecer outras versões. Afinal, tudo é uma questão de ponto de vista, mas são justamente os pontos de vista contrários que se complementam e acrescentam novas percepções.

Anônimo disse...

Ryan, minha opinião é esta:

a verdade é um prato de arroz quentinho.

Se tudo é ponto de vista, então estou certo também, não importa o quanto seja imbecil o que estou falando.

A questão é, e Richard Dawkins fala com maestria sobre isso, a pertinência do pensamento: enquanto alguns cientistas procuram incessantemente compreender os fenômenos do mundo, algumas outras pessoas, dotadas de um mínimo de conhecimento filosófico, se dizem relativistas e jogam pelo ralo qualquer verdade conquistada às custas do trabalho sério.

Para essas pessoas, meia dúzia de frases bonitas, como "tudo é relativo, depende do ponto de vista", valem mais do que qualquer conhecimento verificável. Isso é, mais do que um egocentrismo enorme, um desserviço para a humanidade.

Não existem pontos de vistas para todas as coisas. Por exemplo:

Em Dom Casmurro, Capitu traiu ou não o Bentinho? Isso é totalmente interpretável.

A estirpação de clitóris é boa? Não, é um absurdo, que é legitimado por vocês, relativistas.